Quando a noite me cala
quantos nomes que me chamam.

[reverberam  silêncios]
Cortante este silêncio.
Tão mais que a negação
dos rumores vocais -

Um vazio de muitos ais.
Quando o silêncio é muito
parece ser tudo — não é.
Há sempre um piano
prestes a ser tocado
um assobio — que seja
do vento
um gato no telhado.
Ocultas — latentes
             palavra e música
             se pressente.
Paralelo espelho
a palavra espera
pelo seu reflexo

silencioso.
E se tudo é silêncio – haja palavra.
E se tudo é espanto – onde o canto?

E se tudo é vazio – o chão acolhe.

— E quando não há chão?
De silêncio em silêncio
se faz a partitura.
[depois o canto]
Uma pedra no lago
breve ruído
um círculo concêntrico.
Então, tudo termina
num ponto. Silencioso.
O silêncio se impõe
inevitável, cortante, pleno
como todo silêncio
que não é
a negação da palavra
apenas respiro
profundo
preciso
instante mais escuro
antes — do primeiro sol.
Quebrar o jarro do silêncio
e se fartar da sede
que ele continha
[e esperar pelas chuvas]
Água:palavra que transborda
além 
da rispidez das margens.
Todas as vozes

Nenhuma

(Todo silêncio)